terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A little drunk

- Mas então eu não tenho sentimentos? E quanto mais eu bebo mais eu sinto tudo. Acho que é por isso que bebo.
- Na bebida encontra o sofrimento?
- Bebo porque quero sofrer em dobro. - e inclinou a cabeça em direção à mesa, em um gesto de desespero.
- Rapaz, - continuou ao vê-lo se erguer – leio uma certa tristeza na sua cara.
- E continuo bebendo! E já estou bêbado! Mas quem se preocupa com um tipo como eu? Diga! O senhor tem pena de mim? Diga lá, senhor, tem pena ou não? Ah, ah, ah!
- Mas por que ter pena de você?
- É assim mesmo, não tem motivo. O que devem fazer é me cravar em uma cruz e sem pena de mim. Mas crucifiquem-se depois de me julgarem, me julgarem mal e não sobrar nem um olhar de compaixão. Pois então é que irei procurar o que só encontro no álcool. Sofrerei, sozinho, o suplício, pois não é de alegrias que tenho sede, mas de tristeza e lágrimas!
  E fez-se o silêncio no quarto. Absorto não enxergava ou escutava. A atmosfera era sufocante mas a janela não se encontrava aberta. Da escada vinha o cheiro de comida estragada e cigarros, mas não ousava se mover para fechá-la. Dos quartos vizinhos não chegavam os ruídos que deveriam ser escutados. Sacudiu a cabeça, olhou para os lados e convenceu-se de que não deveria mais falar com o espelho enquanto a imagem refletida no objeto cismasse em responder.

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