terça-feira, 21 de dezembro de 2010 0 conceito(s)

A little drunk

- Mas então eu não tenho sentimentos? E quanto mais eu bebo mais eu sinto tudo. Acho que é por isso que bebo.
- Na bebida encontra o sofrimento?
- Bebo porque quero sofrer em dobro. - e inclinou a cabeça em direção à mesa, em um gesto de desespero.
- Rapaz, - continuou ao vê-lo se erguer – leio uma certa tristeza na sua cara.
- E continuo bebendo! E já estou bêbado! Mas quem se preocupa com um tipo como eu? Diga! O senhor tem pena de mim? Diga lá, senhor, tem pena ou não? Ah, ah, ah!
- Mas por que ter pena de você?
- É assim mesmo, não tem motivo. O que devem fazer é me cravar em uma cruz e sem pena de mim. Mas crucifiquem-se depois de me julgarem, me julgarem mal e não sobrar nem um olhar de compaixão. Pois então é que irei procurar o que só encontro no álcool. Sofrerei, sozinho, o suplício, pois não é de alegrias que tenho sede, mas de tristeza e lágrimas!
  E fez-se o silêncio no quarto. Absorto não enxergava ou escutava. A atmosfera era sufocante mas a janela não se encontrava aberta. Da escada vinha o cheiro de comida estragada e cigarros, mas não ousava se mover para fechá-la. Dos quartos vizinhos não chegavam os ruídos que deveriam ser escutados. Sacudiu a cabeça, olhou para os lados e convenceu-se de que não deveria mais falar com o espelho enquanto a imagem refletida no objeto cismasse em responder.
domingo, 19 de dezembro de 2010 0 conceito(s)

Dos segredos.

I – das coisas, tituladamente, boas.

O segredo da sabedoria
encontra-se, por certo, aí,
guardar tudo só para si.
O segredo da cortesia,
por trás de sorrisos afáveis
por trás de palavras amáveis.
O segredo da felicidade,
ser apenas uma pessoa só
e antes, uma pessoa só.
O segredo da descrição,
é dizer o que não muda
e ao resto fazer-se surda.

II – do agir, propositalmente, pérfido.

O segredo da perfidez,
vai contra a descrição,
conte tudo de uma vez.
O segredo da perfidez,
segue o da cortesia,
com a cabeça fria.
O segredo da perfidez,
é, porém, ser o que puder,
ser humano e mais ninguém.

III – de ser, indubitavelmente, melancólico.

O segredo da melancolia,
não se afasta dos olhos
neles não mostre alegria.
O segredo da melancolia:
se afaste de todas as pessoas,
quanto mais elas forem boas.

IV – de como, facilmente, fugir a tudo.

O segredo da fuga,
fácil de ser feita,
é como matar a si
morte perfeita.
O segredo da fuga,
difícil de ser feita,
é desligar-se e fingir
não ter uma vida desfeita.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010 0 conceito(s)

De falsos olhares

Nem sempre os olhos respondem à alma,
quase nunca, na verdade, para quem sabe
esconder o que quer. Olhos de quem bebe
e aliena a vista, da boca a mentira calma.

Com os olhos vermelhos, provável sono,
vulnerável no espelho, propício a dizer
tudo aquilo que questionado puder ser.
Aquela é a esperada derrota do trono

do orgulho. Que triste mentira vivida!
Por tolos crédulos, estes. Que nivelam
por baixo, todos nós de astúcia erguida

por todo e qualquer tempo. Com sentidos
sempre atentos, e verdade bem escondida,
para, desde sempre, evitar mau-entendidos.
 
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