quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
''No meu livro de capa verde estão escritos os desejos dos outros. Ele se chama agenda. Os meus desejos, não é preciso que ninguém me lembre deles. Não precisam ser escritos. Sei-os (isto mesmo, seios!) de cor. De cor quer dizer no coração.
Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O a memória ama fica eterno. Se preciso de agenda é porque não está no coração. Não é o meu desejo. É o desejo de um outro. Minha agenda em diz que devo deixar minha conversa com ipês para depois, pois há deveres a serem cumpridos. E que eu devo me lembrar da primeira lição de moral ministrada a qualquer criança: primeiro a obrigação, depois a devoção; primeiro a agenda, depois o prazer; primeiro o desejo dos outros, depois o da gente. Não é esta a base de toda a vida social? Uma pessoa boa, responsável, não é justamente esta que se esquece dos seus desejos e obedece os desejos de um outro - não importando que o outro more dentro dela mesma?''
Fazer nada - Rubem Alves, O retorno e terno.

Um comentário:

Larissa Andrioli disse...

Virei fã do Rubem Alves depois que vi essa frase dele:
"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra."

De certa forma, traduziu perfeitamente o que me levou a querer ser professora =)

 
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