Totalmente estranhos de tão opostos que nunca teriam se unido se não fosse aquele plano maluco, que nem ao menos se lembram quem sugeriu.
- Vamos assaltar um banco? - Vamos! Que tal aquele? - Grande demais. E este? - Pequeno demais. Tem aquele, lá perto da minha casa. - É discreto, gostei. - Vamos roubar como? - Direto da boca do caixa, mais adrenalina. - Do cofre, mais emoção. (simultâneo) - Do cofre e do caixa. - Ótima ideia. - Minha, sua. - Sua, minha. (simultâneo) - Nossa.
- Poderíamos usar armas de plástico! - É, daquelas que esguicham água. Que tal? - Seria tão engraçado. - Seria não, será.
- Ótimo, vou roubar meia calça da minha mãe para usarmos na cabeça. (risos) - E eu as arminhas d’água do meu irmão. (mais risos) (silêncio) (olhares sérios) - Eu sou gay. - Ótimo, porque eu sou lésbica. - Ok. - Ok. - Até amanhã. - ‘té’ mais.
E no meio de tanta expectativa, talvez só não tremessem diante da ideia de realmente assaltar um banco. Durante a noite dormiram bem e mal, respectiva, aleatória e simultaneamente, tanto fazia. Eles haviam se conhecido em um ônibus qualquer, em um dia de total mau humor para ambos e nenhum dos dois conseguiu melhorar o humor do outro, nem ao menos tentaram, ficaram só se encarando como se jogassem aquilo de não piscar e não rir. Empatou, nenhum riu. Taurina, aposto. Taurino, aposto. Corretos sem saber.
- Oi! - Oi! - Trouxe as meias. - Também. - Tudo bem, trouxe as arminhas, por precaução. - Que bom, eu também. - Vamos para outro lugar? - Pode ser... eu não sou gay. - Tudo bem, continuo sendo lésbica. (silêncio) - Vamos? - Vamos. (silêncio) - Você não está brava? - Não, eu só quero roubar o banco. (silêncio) - Realmente não está chateada? - Não. (silêncio) - Não ficou com raiva da mentira? - Não, todos nós mentimos. - Me sinto melhor agora. - Não consegue conviver com a mentira? -Não. - Que pena. (silêncio) - Que tal entrarmos aqui? - Pode ser.
Foi uma conversa deveras estranha. Qualquer passante acharia se tratar de dois loucos. Encontravam-se tão entrosados que um policial poderia para ao lado e ficar escutando que nem perceberiam. Riam imaginando a cara dos reféns e da cara dos ‘seguranças’ sem poder reagir.
- Sem reagir? - Claro, faremos reféns com uma arma de plástico na cabeça. - Mas eu ou você? - Eu. - Ah, mas queria tanto me sentir no poder também. - Taurina? - Acertou, taurino? - Sim, como soube? - Só um reconhece o outro. - Ok, mas no próximo sou eu. - Próximo? - Próximo. - Legal, próximo. - Você pega o dinheiro, então? - No próximo, nesse não. - Ah é, ok. - Que tal agora? - Por mim... vamos lá.
Levantaram e caminharam em direção ao banco, cada um mais ansioso que o outro. A cada passo o sorriso doentio de criança que vai fazer algo errado aumentava. Chegaram lá gargalhando sem nem ao menos haver sido entabulada uma conversa. Do lado de fora ela o beijou.
- Eu sou lésbica. - Eu gosto de você. - Eu também gosto de você. - Você não é lésbica? - Mas eu só gosto de você, entende? - Entendo. - Não está chateado? - Com a verdade? - É. - Não, eu gosto dela. - Que pena. - O quê?
Mas ela já havia entrado no banco, rendido um policial e anunciado o assalto. Era a vez dele recolher o dinheiro. Da próxima seria ela. Seria ela, da próxima.
Eu vou fugir de casa, sabe? Vender meu corpo, comprar uma passagem e ir, só alma, para deus-dará. Eu vou fugir de mim, sabe? Vender meu sorriso, comprar uma passagem e perder o trem, só para comprar outra e ver que eu tenho coragem de continuar algo do qual eu desisti. Eu vou fugir daqui, sabe? Vender minha alma, porque o corpo já ficou no início, junto com o sorriso. Vender minha alma e vagar, pura mente perdida, por onde calhar de chegar. Eu vou fugir de lá, sabe? Vender minha vida, desastrada e sofrida, e ir para longe do mato, ligeira e volátil, de onde nunca fui nem serei. Eu vou fugir do sempre, sabe? Vender minha rotina, minha verdadeira assassina, vou comprar sapato, mochila, calça, agasalho, vou partir de vez, nada pior do que já fiz. E não mais vou fugir, sabe? Mas vou comprar tudo de volta, corpo, sorriso, alma e vida, só não me devolva a rotina, a única que não quero ver e que se caso acontecer, me fará vendê-los todos outra vez.
Ontem, minhas mãos já assim tremiam E meus olhos não, há muito, reluziam Nada para que eu não me lembrasse Das lágrimas se, talvez, elas secassem
Hoje, meus pés nem ao menos esquentaram E aquelas pontadas na cabeça voltaram Tudo para que eu não me esqueça da hora E não me tranque do meu lado de fora
Amanhã, meus braços, por repúdio, sangrarão E minhas pernas, por desespero, correrão Só para que eu, finalmente, perceba Parada não há nada que eu receba.
Acreditas, mesmo, que tudo pode ter um final feliz? Ou seria só mais um conto de fadas, querida meretriz? Acreditas, mesmo, naquilo tudo que você sempre diz? Ou seria só uma maneira de fugir do destino que quis? Não se incomode, minha querida atriz, deixo-te jogar E lutar contra a sina de ser infeliz, por ti traçada Não te enganarei sob as cartas, ainda ensino-te a blefar Mantenho-me apenas um pouco longe da luz vermelha da sacada Arriscando alguns de meus truques por alguém que, vejo, sabe ao menos dançar.
Escurece tão rápido nessa época do ano Parece-me que no fim do dia O sol não quer mais andar, subir, descer. Num espaço de minutos tudo esfria, Entristece...
Ou, talvez, o dia só esteja sempre atrasado Assim como eu, reparo (-me) de repente Ele vai acontecendo, acontecendo, de leve, Distraído...
E, de repente, já deu a hora, Apressa-se de tudo, desliga o aquecedor, Apaga a luz e vai-se embora, Já acabou seu show.
São várias as sensações que passam rápidas como o vento. Auscultando seriamente cada pedaço em mim não se enxerga mais tal amargura antiga sem fim, ou aquele, digno de falsa lástima, sofrimento.
Concentro-me tanto em absorver tanto que quando, sem exceções, leio um livro percebem-me fechada em uma redoma de vidro de tal maneira que o reproduziria em canto.
Mas o vento muda constante, disso bem sei eu e se, no momento em que leio, ele se inverte não consigo ser, de um escritor, mera tiéte Tomo posse de caneta e escrevo, mesmo que no breu.
Estávamos todos reunidos, como de praxe, naquela casa falsamente velha, precariamente localizada, porém impressionantemente mobiliada e suficientemente mística (os adjetivos não são exagerados, garanto-lhes) para um desses encontros de fins-de-semana, onde há muita bebida e a tão necessitada válvula de escape da rotina. O álcool e a decoração já haviam feito o papel perfeito para causar medo e excitação na cabeça de todos, menos, talvez, na de Andrew, que nunca bebia e era o dono da casa.
Ninguém se lembrava, nem ao menos eu, quem havia sugerido que aquele popular jogo do compasso - do copo, ou do que quer que fosse – se tornasse a diversão da noite, mas acho que devido à áurea local seria quase impossível fugir de terminar em um jogo como esse. De qualquer maneira, quando demos por nós já nos encontrávamos entoando orações e evocando espíritos (nos quais a maioria de nós nunca acreditou).
Dando sequência ao jogo, perguntas eram feitas por todos e respondidas de maneira surpreendentemente correta. Aos poucos, os sorrisos escarnecedores foram se esvanecendo enquanto os céticos se agarravam a sua ciência com uma segurança tal qual se agarrariam a um fio de cabelo ressecado.. Claro, havia algumas regras forjadas para que a brincadeira ficasse mais ‘real’, todas ligadas às permissões; você deveria pedir para sair, perguntar, ir embora, etc.
Precisei ir ao banheiro e quando voltei fiquei observando Andrew. Em demasia concentrado, era o autor de poucas, porém das mais desconcertantes, perguntas e parecia absorver para si toda a mística do ambiente. Fui obrigado a interromper minha análise quase ‘neurótica’ no momento em que Lea me chamou para retornar ao jogo. Recusei-me, prontamente, afinal o efeito do álcool já estava passando e eu sempre fui um tanto quanto covarde. Quando lhe disse isso, foi como se a houvesse tomado conta uma súbita loucura, começou a rir, a me chamar de medroso e a gritar para todos ouvirem que ela havia manipulado quase todas as respostas desde o início. Sem escapar ao clichê, creio ter visto um olhar vidrado o qual só percebi depois já que a bebida foi julgada culpada pelo desvario.
Logo após o ocorrido, o ambiente ficou sensível e justificadamente pesado demais, e, mesmo alterados todos perceberam que era hora de partir. Como eu dormiria naquela casa, esperei para me despedir antes de ir me trocar e me higienizar. Quando terminei de fazer o que deveria voltei para a sala. Não sei se o fiz demasiadamente silencioso ou se Andrew encontrava-se tão concentrado de cabeça baixa que não ouviu minha aproximação... Fato é que o ouvi dizendo, ou melhor, sussurrando, como se houvesse alguém ajoelhado ali, a sua frente e ele murmurasse em seu ouvido:
- Obrigado, Albert. Eles quebraram as regras. Agora, vamos atrás deles.
Levantou-se sem, novamente, sequer notar minha presença ali. Saiu, me trancando sem chaves e de tal maneira estuporado que somente depois de um longo tempo (durante o qual, quem me observasse acharia que eu estava decorando cada milímetro da porta) vi um bilhete para mim, na mesa de centro:
“Richard, você obteve permissão para sair, portanto está a salvo. Agora seremos eu e você, novamente.
I heard a boy say it's all my invention a fictional statement, it's all in my head all. I can tell you my only pretension was in thinking you listened to me when I said
Totalmente estranhos de tão opostos que nunca teriam se unido se não fosse aquele plano maluco, que nem ao menos se lembram quem sugeriu.
- Vamos assaltar um banco? - Vamos! Que tal aquele? - Grande demais. E este? - Pequeno demais. Tem aquele, lá perto da minha casa. - É discreto, gostei. - Vamos roubar como? - Direto da boca do caixa, mais adrenalina. - Do cofre, mais emoção. (simultâneo) - Do cofre e do caixa. - Ótima ideia. - Minha, sua. - Sua, minha. (simultâneo) - Nossa.
- Poderíamos usar armas de plástico! - É, daquelas que esguicham água. Que tal? - Seria tão engraçado. - Seria não, será.
- Ótimo, vou roubar meia calça da minha mãe para usarmos na cabeça. (risos) - E eu as arminhas d’água do meu irmão. (mais risos) (silêncio) (olhares sérios) - Eu sou gay. - Ótimo, porque eu sou lésbica. - Ok. - Ok. - Até amanhã. - ‘té’ mais.
E no meio de tanta expectativa, talvez só não tremessem diante da ideia de realmente assaltar um banco. Durante a noite dormiram bem e mal, respectiva, aleatória e simultaneamente, tanto fazia. Eles haviam se conhecido em um ônibus qualquer, em um dia de total mau humor para ambos e nenhum dos dois conseguiu melhorar o humor do outro, nem ao menos tentaram, ficaram só se encarando como se jogassem aquilo de não piscar e não rir. Empatou, nenhum riu. Taurina, aposto. Taurino, aposto. Corretos sem saber.
- Oi! - Oi! - Trouxe as meias. - Também. - Tudo bem, trouxe as arminhas, por precaução. - Que bom, eu também. - Vamos para outro lugar? - Pode ser... eu não sou gay. - Tudo bem, continuo sendo lésbica. (silêncio) - Vamos? - Vamos. (silêncio) - Você não está brava? - Não, eu só quero roubar o banco. (silêncio) - Realmente não está chateada? - Não. (silêncio) - Não ficou com raiva da mentira? - Não, todos nós mentimos. - Me sinto melhor agora. - Não consegue conviver com a mentira? -Não. - Que pena. (silêncio) - Que tal entrarmos aqui? - Pode ser.
Foi uma conversa deveras estranha. Qualquer passante acharia se tratar de dois loucos. Encontravam-se tão entrosados que um policial poderia para ao lado e ficar escutando que nem perceberiam. Riam imaginando a cara dos reféns e da cara dos ‘seguranças’ sem poder reagir.
- Sem reagir? - Claro, faremos reféns com uma arma de plástico na cabeça. - Mas eu ou você? - Eu. - Ah, mas queria tanto me sentir no poder também. - Taurina? - Acertou, taurino? - Sim, como soube? - Só um reconhece o outro. - Ok, mas no próximo sou eu. - Próximo? - Próximo. - Legal, próximo. - Você pega o dinheiro, então? - No próximo, nesse não. - Ah é, ok. - Que tal agora? - Por mim... vamos lá.
Levantaram e caminharam em direção ao banco, cada um mais ansioso que o outro. A cada passo o sorriso doentio de criança que vai fazer algo errado aumentava. Chegaram lá gargalhando sem nem ao menos haver sido entabulada uma conversa. Do lado de fora ela o beijou.
- Eu sou lésbica. - Eu gosto de você. - Eu também gosto de você. - Você não é lésbica? - Mas eu só gosto de você, entende? - Entendo. - Não está chateado? - Com a verdade? - É. - Não, eu gosto dela. - Que pena. - O quê?
Mas ela já havia entrado no banco, rendido um policial e anunciado o assalto. Era a vez dele recolher o dinheiro. Da próxima seria ela. Seria ela, da próxima.
Eu vou fugir de casa, sabe? Vender meu corpo, comprar uma passagem e ir, só alma, para deus-dará. Eu vou fugir de mim, sabe? Vender meu sorriso, comprar uma passagem e perder o trem, só para comprar outra e ver que eu tenho coragem de continuar algo do qual eu desisti. Eu vou fugir daqui, sabe? Vender minha alma, porque o corpo já ficou no início, junto com o sorriso. Vender minha alma e vagar, pura mente perdida, por onde calhar de chegar. Eu vou fugir de lá, sabe? Vender minha vida, desastrada e sofrida, e ir para longe do mato, ligeira e volátil, de onde nunca fui nem serei. Eu vou fugir do sempre, sabe? Vender minha rotina, minha verdadeira assassina, vou comprar sapato, mochila, calça, agasalho, vou partir de vez, nada pior do que já fiz. E não mais vou fugir, sabe? Mas vou comprar tudo de volta, corpo, sorriso, alma e vida, só não me devolva a rotina, a única que não quero ver e que se caso acontecer, me fará vendê-los todos outra vez.
Ontem, minhas mãos já assim tremiam E meus olhos não, há muito, reluziam Nada para que eu não me lembrasse Das lágrimas se, talvez, elas secassem
Hoje, meus pés nem ao menos esquentaram E aquelas pontadas na cabeça voltaram Tudo para que eu não me esqueça da hora E não me tranque do meu lado de fora
Amanhã, meus braços, por repúdio, sangrarão E minhas pernas, por desespero, correrão Só para que eu, finalmente, perceba Parada não há nada que eu receba.
Acreditas, mesmo, que tudo pode ter um final feliz? Ou seria só mais um conto de fadas, querida meretriz? Acreditas, mesmo, naquilo tudo que você sempre diz? Ou seria só uma maneira de fugir do destino que quis? Não se incomode, minha querida atriz, deixo-te jogar E lutar contra a sina de ser infeliz, por ti traçada Não te enganarei sob as cartas, ainda ensino-te a blefar Mantenho-me apenas um pouco longe da luz vermelha da sacada Arriscando alguns de meus truques por alguém que, vejo, sabe ao menos dançar.
Escurece tão rápido nessa época do ano Parece-me que no fim do dia O sol não quer mais andar, subir, descer. Num espaço de minutos tudo esfria, Entristece...
Ou, talvez, o dia só esteja sempre atrasado Assim como eu, reparo (-me) de repente Ele vai acontecendo, acontecendo, de leve, Distraído...
E, de repente, já deu a hora, Apressa-se de tudo, desliga o aquecedor, Apaga a luz e vai-se embora, Já acabou seu show.
São várias as sensações que passam rápidas como o vento. Auscultando seriamente cada pedaço em mim não se enxerga mais tal amargura antiga sem fim, ou aquele, digno de falsa lástima, sofrimento.
Concentro-me tanto em absorver tanto que quando, sem exceções, leio um livro percebem-me fechada em uma redoma de vidro de tal maneira que o reproduziria em canto.
Mas o vento muda constante, disso bem sei eu e se, no momento em que leio, ele se inverte não consigo ser, de um escritor, mera tiéte Tomo posse de caneta e escrevo, mesmo que no breu.
Estávamos todos reunidos, como de praxe, naquela casa falsamente velha, precariamente localizada, porém impressionantemente mobiliada e suficientemente mística (os adjetivos não são exagerados, garanto-lhes) para um desses encontros de fins-de-semana, onde há muita bebida e a tão necessitada válvula de escape da rotina. O álcool e a decoração já haviam feito o papel perfeito para causar medo e excitação na cabeça de todos, menos, talvez, na de Andrew, que nunca bebia e era o dono da casa.
Ninguém se lembrava, nem ao menos eu, quem havia sugerido que aquele popular jogo do compasso - do copo, ou do que quer que fosse – se tornasse a diversão da noite, mas acho que devido à áurea local seria quase impossível fugir de terminar em um jogo como esse. De qualquer maneira, quando demos por nós já nos encontrávamos entoando orações e evocando espíritos (nos quais a maioria de nós nunca acreditou).
Dando sequência ao jogo, perguntas eram feitas por todos e respondidas de maneira surpreendentemente correta. Aos poucos, os sorrisos escarnecedores foram se esvanecendo enquanto os céticos se agarravam a sua ciência com uma segurança tal qual se agarrariam a um fio de cabelo ressecado.. Claro, havia algumas regras forjadas para que a brincadeira ficasse mais ‘real’, todas ligadas às permissões; você deveria pedir para sair, perguntar, ir embora, etc.
Precisei ir ao banheiro e quando voltei fiquei observando Andrew. Em demasia concentrado, era o autor de poucas, porém das mais desconcertantes, perguntas e parecia absorver para si toda a mística do ambiente. Fui obrigado a interromper minha análise quase ‘neurótica’ no momento em que Lea me chamou para retornar ao jogo. Recusei-me, prontamente, afinal o efeito do álcool já estava passando e eu sempre fui um tanto quanto covarde. Quando lhe disse isso, foi como se a houvesse tomado conta uma súbita loucura, começou a rir, a me chamar de medroso e a gritar para todos ouvirem que ela havia manipulado quase todas as respostas desde o início. Sem escapar ao clichê, creio ter visto um olhar vidrado o qual só percebi depois já que a bebida foi julgada culpada pelo desvario.
Logo após o ocorrido, o ambiente ficou sensível e justificadamente pesado demais, e, mesmo alterados todos perceberam que era hora de partir. Como eu dormiria naquela casa, esperei para me despedir antes de ir me trocar e me higienizar. Quando terminei de fazer o que deveria voltei para a sala. Não sei se o fiz demasiadamente silencioso ou se Andrew encontrava-se tão concentrado de cabeça baixa que não ouviu minha aproximação... Fato é que o ouvi dizendo, ou melhor, sussurrando, como se houvesse alguém ajoelhado ali, a sua frente e ele murmurasse em seu ouvido:
- Obrigado, Albert. Eles quebraram as regras. Agora, vamos atrás deles.
Levantou-se sem, novamente, sequer notar minha presença ali. Saiu, me trancando sem chaves e de tal maneira estuporado que somente depois de um longo tempo (durante o qual, quem me observasse acharia que eu estava decorando cada milímetro da porta) vi um bilhete para mim, na mesa de centro:
“Richard, você obteve permissão para sair, portanto está a salvo. Agora seremos eu e você, novamente.